O ecossistema ártico é um dos mais hostis. O frio extremo, a baixa produtividade biológica da tundra, os longos períodos de luz e escuridão, além dos riscos do trabalho na neve e no gelo fazem parte do dia-a-dia da população esquimó, a qual se autodenomina inuit. Essas adversidades do ambiente ártico foram contornadas por diversas vias: formas flexíveis de organização social, grande conhecimento dos hábitos dos animais, vestuários e abrigos adaptados ao ambiente, entre outros ajustes.
1.1- Ajustes Reguladores Culturais:
O isolamento adequado é uma importante forma de se prevenir o estresse ocasionado pelo frio. Essa questão implica dois problemas: o de manter um aquecimento contínuo e o de evitar o superaquecimento durante períodos de atividade intensa. Se este segundo problema não for devidamente solucionado, o fato das vestimentas estarem embebidas em suor, ou congeladas, anula a eficácia de sua proteção. Já se observou que isto às vezes ocorre. Segundo relatos de pesquisadores, os inuit penduram suas roupas para que a umidade congele e, depois, retiram o gelo batendo com uma vareta. Eventualmente, eles têm de raspar o couro para que recupere sua maleabilidade.
Dois métodos são comumente utilizados para evitar o superaquecimento. No verão, época de trabalho intenso, os inuit removem suas parkas, o que proporciona uma temperatura externa relativamente fresca. O método mais importante, porém, é o próprio desenho da indumentária inuit. O traje tradicional das regiões árticas possui diversas aberturas com respiradouros através dos quias o ar constantemente entra e sai. Esta é uma forma por meio da qual os inuit adaptaram seu vestuário às condições ambientais. O outro principal fator de isolamento é que as roupas possuem inúmeras camadas que retêm e aquecem o ar, agindo como um isolante. Além disso, sendo a camada externa impermeável, e à prova de vento, a roupa conserva o calor e impede a entrada de frio e umidade. Por causa da dificuldade de combinar atividade e condições do tempo com vestuário, quando em movimento, é comum que os inuit tenham de tolerar graus moderados de desconforto térmico sob tais circunstâncias. A solução para este problema consiste em vestir-se com roupas bem quentes, e tolerar a transpiração durante os períodos de trabalho e o frio durante os períodos de descanso.
As botas (kimik) requerem uma atenção especial. Sob temperaturas abaixo de zero o gelo afiado pode cortar os melhores calçados, sendo necessário que se tome muito cuidado para que essa peça do vestuário esteja bem protegida. As solas são tradicionalmente feitas de pele de foca cuidadosamente preparada, enquanto a parte superior é fabricada com lascas de pele de foca anelada. Os calçados apresentam uma costura bastante resistente, porém evita-se fazer buracos com agulha, a fim de assegurar impermeabilidade. As meias são feitas com delicada pele de lebre das regiões árticas e mantidas secas com a inserção de chumaços de grama seca entre a sola da bota e a sola do pé. Esse chumaço de grama seca absorve qualquer umidade que possa penetrar pelo exterior ou decorrente da transpiração dos pés. De forma semelhante, as luvas de pele de foca são também recheadas com grama seca para proteger as mãos durante longas viagens.
Assim como o vestuário, os abrigos inuit têm de conservar o calor e ser a prova de vento. A casa adaptada ao frio deve evitar a perda de calor por meio de uma arquitetura compacta, manter as áreas superficiais externas pouco expostas, utilizar materiais isolantes e aumentar a reflexão de calor, a partir de fontes internas (por exemplo, lâmpadas, forno e calor corporal). Quando envolvidos em atividades nômades em busca de subsistência, os inuit constroem abrigos com blocos de neve. Esses abrigos (iglus)tem sido descritos como muito bem isolados em virtude da grande quantidade de pequenas celulas de ar existentes no gelo. Os iglus oferecem pouquíssima resistência ao vento, proporcionam o máximo de volume com o mínimo de área de superfície e ficam muito bem aquecidos com a utilização de uma lâmpada a óleo de foca, que também ilumina o interior. O calor da lâmpada derrete muito pouco a superfície interna dos blocos de neve, que recongela durante a noite, formando, assim, uma suave superfície refletora que conserva o calor radiante. A superfície externa fica incrustada com neve, formando um lacre hermético.
No verão, utilizam-se os tupiks (tendas de pele de foca). As tendas, de pele escuras para absorver a energia solar, possuem uma camada dupla e proporcionam uma temperatura confortável nos períodos mais quentes. Os tupiks são feitos com diversas peles de foca, costuradas de modo a formar uma capa contínua. Para a confecção de tendas de grande porte, é preciso bem mais do que sessenta peles. As superfícies interna e externa criam uma área de ar estagnado que facilita o aquecimento durante os períodos frios, mas que pode ser aberta nos meses de verão.
O EFEITO CHAMINÉ NA VESTIMENTA DE PELE DOS INUIT - OS RESPIRADOUROS DO TRAJE PODEM SER ABERTOS SOLTANDO-SE OS CORDÕES PREVENINDO O ACÚMULO DE SUOR.
(Fonte: Geografia: Volume Único: Ensino Médio - FILIZOLA, Roberto - Editora IBEP, São Paulo/SP, 2005)
INUITS COM SEUS TRAJES
(Fonte: www.googleimagens.com.br)
HABITAÇÃO INUIT - IGLU
(Fonte: www.googleimagens.com.br)
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